domingo, 9 de janeiro de 2011
A Voz das Ruas
18:02 | Postado por
Pedro Mello |
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O hype do momento é o ‘vozerão’ do ex-indigente de Columbia, Ohio. Ted Willians, dono da voz divina, costumava ficar a beira de uma estrada fazendo exibições com seu dom para ganhar qualquer trocado. Sua sorte mudou no dia que o repórter de um jornal local, Doral Chenoweth, resolveu parar para ouvir a tal voz. Filmou a conversa e subiu para o Youtube sem grandes pretensões. Em poucas horas, o vídeo havia sido visualizado mais de 3 milhões de vezes. Hoje já ultrapassa 12 milhões.
Doral Chenoweth utilizou o espaço destinado a descrição do vídeo para postar updates sobre as mudanças na vida de Ted após a viralização de sua história. Por sinal, história essa que já é rica por essência: o sujeito definitivamente tem uma voz perfeita, já trabalhou em rádios, se envolveu com drogas e terminou pedindo esmola nas ruas. Em questão de três dias, Ted tem casa, emprego e dignidade. Além de fama, muita fama.
Internet, redes sociais e transformação social
A história em si provavelmente a maioria já conheça. Para os que não conhecem, recomendo a leitura desse post do blog A Quinta Onda. Meu interesse é ir um pouco mais a fundo em outras questões que tocam esse acontecimento.
Em primeiro lugar, tudo começou graças a atitude de alguém filmar, editar e subir um vídeo sobre a história de Ted Willians. Esse é o primeiro ponto: a narrativa surge através da colaboração. Fábio Malini fez um ótimo apontamento sobre jornalismo colaborativo em seu blog que cai como uma luva nesse contexto:
É dentro dessa historiografia menor, inscrita em hashtags, tweets, posts e memes online, totalmente profusas e polissêmicas, que penso ser importante interpretar o que autores insistem em denominar de “jornalismo colaborativo” ou “jornalismo participativo” – termos que revelam que a prática da imprensa é algo hoje internalizada em qualquer cidadão que tem seu canal de comunicação online.
No caso que observamos, Doral Chenoweth fez esse exercício de percepção. Tudo bem que ele trabalha com produção de notícias e já tem o olhar viciado em procurar novas histórias. De qualquer forma, Chenoweth poderia ter apenas achado engraçado um cara mal vestido com uma voz tão perfeita, filmado e colocado no youtube com a descrição “hauhauhauha”. Mas ele foi além. Ouviu a história da voz, deu nome e acompanhou sua repercussão. O curioso é que o espaço de descrição do vídeo no Youtube se transformou num espaço com mais audiência que muitos jornais por aí.
Esse foi o “pulo do gato”. Talvez sem perceber (ou até mesmo conscientemente), Doral Chenoweth incitava as pessoas através de seus Updates. Infelizmente o vídeo original fora deletado e toda essa narrativa que deu origem a essa epifania se perdeu. Através dos comentários (mais de 50 mil) as pessoas organizaram de forma caótica e descentralizada um mutirão de ajuda a Ted Willians. É o poder da multidão.
Da ação ao click e vice-versa
Li uma crítica sobre o clicktivismo muito lúcida que em breve publicarei sua tradução no iMasters. A crítica se baseia no argumento de que uma transformação social não se faz com clicks, muito embora o sucesso de uma ação social precisa contar com tal recurso. Em curtas palavras o artigo diz: você não vai mudar o mundo com seu mouse.
O caso de Ted Willians é um exemplo perfeito. Não fosse o surto de viralização da mensagem, Ted estaria neste momento pedindo esmola no mesmo lugar. Mas se também não fosse o olhar diferenciado de Doral Chenoweth, não estaríamos falando de Ted. E ainda: se não fosse a narrativa construída por Doral Chenoweth, os 50 mil comentaristas no vídeo e os jornais que propagaram ainda mais a história, talvez Ted tivesse apenas ficado famoso sem nenhuma transformação efetiva.
O ponto onde quero chegar para finalizar esse raciocínio é que o caso de Ted revela uma forma de organização típica da nossa geração. Não há papéis, hierarquias ou estruturas para realizar uma ação. Cada um desempenha um papel peculiar ditado por si mesmo de forma totalmente caótica para a narrativa da História (do ponto de vista historiográfico mesmo), mas que faz todo sentido para quem está dentro da história no momento da ação.
No final, uma mensagem do vídeo de Doral Chenoweth que guardei na memória:
Se você andar por aí e se deparar com uma história sensacional como essa, não ache que ela ganhará vida por conta própria. Isso não vai acontecer. É preciso ação.
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1 comentários:
totalmente legal.. boto muita fé nessa era que está ainda está engatinhando!
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